“Fia, algumas entidades te amparam sem precisar serem suas, te amam e te guardam sem que sejam suas ou sem você pedir”
Minha primeira memória com Exu Veludo foi aos meus 7 anos de idade, eu estava na porta do quarto das crianças quando vi ele passar, desde então eu sempre o observava, de longe, mas sempre atenta a ele.
7, 8, 9, 10, 11, 12, 13 anos.
Com 13 anos eu tive meu primeiro contato com ele.
Ele caminhou até mim, pegou minha mão e disse:
“Vamos, moçinha, agora você pode vir comigo”
Desde então minha vida mudou, ganhei uma força que só ele pode me proporcionar, naquela mesma noite ele me disse da minha Cigana, que eu devia começar a estudar as cartas, que eu devia sempre alimentar ela, o baralho e fazer dela a minha vida pois um dia eu seria a figura dela.
Eu fiz dela e dele, eu fiz da Cigana, eu fiz do Exu Veludo a minha vida e desde então nunca mais estive só.
Eu não sabia, mas aquele era o princípio de tudo, de toda minha espiritualidade e conexão com o sagrado.
A primeira flor que ganhei na minha vida foi dele.
“Um rosa para ti, e assim como a rosa desabrocha lindamente você há de desabrochar lindamente, igual à ela”
Ele e a minha Cigana tem segredos únicos entre eles, segredos esses que nem em meus sonhos eu poderia saber, milhares de rosas e perfumes embalam esses dois, tantos panos caros os compõem.
Quando chorei, chorei por amor, chorei por dor, chorei por saudade, os braços que me acolheu foram os dele, foi ele quem estava lá por mim, chorava de soluçar e o abraço, aquele abraço, me acalmava.
As lágrimas que tanto insistiam em rolar, foi ele quem aguentou, foram as palavras dele que me ajudaram e foi ele quem secou meu rosto com sua capa e em um sorriso me disse:
“Tu é muito bonita pra isso, moçinha, mas eu to aqui pra quando as lágrimas quiserem rolar e eu sempre vou estar”
Tantas rosas dele recebi que se tornaram as minhas favoritas, tantos perfumes diferentes me remetem à ele, tantos sonhos e histórias de proteção.
Hoje, ele canta assim, olhando no fundo dos meus olhos:
“Ah moça bonita
Não lamenta e não chora
Eu sou Exu Veludo
Me chame a qualquer hora
Eu vou para a encruza
Patrão me chama é hora”
E eu o chamo a qualquer hora, pra sempre.